Antero de Quental nasceu em Ponta Delgada, em 18 de Abril de 1842, e morreu em Setembro de 1891.
A sua família era uma das mais antigas dos colonizadores micaelenses, em luta contra a Inquisição e o Absolutismo.
Acabada a instrução primária, entrou no colégio de São Bento, em Coimbra, e depois na universidade, na área de Direito, em Setembro de 1859, tendo terminado o curso em 1864.
Após a morte de seu pai, em 1873, é alvo de uma doença nunca totalmente diagnosticada.
Em 1880, adoptou as duas filhas de um seu amigo, falecido em 1877.
Em 1881, por conselho do médico, passou a viver em Vila do Conde, onde se manteve até 1891.
Em 1890, é chamado para encabeçar um movimento patriótico que opôs Portugal à Inglaterra em relação à partilha de África.
Deparado com vários problemas, para os quais não consegue resposta, acaba por se suicidar, em Ponta Delgada, em Junho de 1891.
Algumas das suas publicações:
- Primaveras românticas (obra poética, 1871);
- Sonetos (obra poética, 1886);
- Arte e Verdade – Caracteres Positivos da Arte (artigo, 1885);
- O Sentimento de Imortalidade (artigo, 1868).
De seguida, apresentamos dois dos poemas de Antero Quental.
A UM POETA
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
Este poema é dirigido a um poeta e refere a capacidade ou o poder que a poesia tem na intervenção social.
ANIMA MEA
Estava a Morte ali, em pé, diante,
Sim, diante de mim, como serpente
Que dormisse na estrada e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.
Era de ver a fúnebre bachante!
Que torvo olhar! que gesto de demente!
E eu disse-lhe: «Que buscas, impudente,
Loba faminta, pelo mundo errante?»
— Não temas, respondeu (e uma ironia
Sinistramente estranha, atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria).
Eu não busco o teu corpo... Era um troféu
Glorioso de mais... Busco a tua alma —
Respondi-lhe: «A minha alma já morreu!»
Neste poema o sujeito poético dá a entender que, por vezes, a pessoa está viva, mas por dentro a alma está morta.
Trabalho efectuado por Alexandre Gomes e Sara Gomes
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